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Sou pároco da Paróquia São Judas Tadeu de Poços de Caldas - Coordeno a Pastoral da Juventude Setor Poços - Diocese de Guaxupé - vivo para servir e sirvo para viver!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Deus onipresente


Uma das ousadias do ser humano é tentar descrever Deus. Mas é ate uma ousadia permitida, pois foi o próprio Deus que se encarnou e deixou ser conhecido, tocado, palpado, olhado e ouvido. E uma das qualificações que o homem criou para Deus é o termo “Onipresente”. Deus não se limita a qualquer parte do universo, mas está presente com todo o seu poder em cada lugar do espaço e em cada momento do tempo como diz o Salmo 139. Assim, Deus não pertence a uma nação ou geração. Ele é o Deus de toda a terra.
Nos últimos dias compreendi mais intimamente essa verdade. Estive na cidade de São Paulo semana passada. Foi algo muito fora da minha realidade. Lá é um povo agitado, que não para, corre, todos parecem estar atrasados em seus compromissos e sobre o trânsito nem preciso tecer comentário algum.
No meio daquele mar de gente algo se destaca. Em uma brecha na calçada, onde o povo não estava andando vi um cobertor estirado ao chão. E debaixo dele um menino. Em pleno meio dia na Praça da Sé esse menino não corria apressado, não estava atrasado, sua vida não era como daquele povão agitado, talvez porque ele não tinha vida. Não que estivesse morto fisicamente, mas por dentro, seu coração, sua história parecia tudo sem vida. E mal sabe ele que é o herdeiro do Reino de Deus. E mal sabe o povo que ali passa que debaixo daquela coberta está o próprio Jesus encarnado.
Mais adiante encontrei com outras pessoas pedindo esmolas. Roupas rasgadas, pés descalços, olhar de fragilidade.
Nessas horas tento me colocar no lugar desses meninos, homens e mulheres deixados a margem da sociedade. Enquanto muitos julgam, eles continuam a passar necessidade. Aquela famosa frase me incomoda: “devemos ensinar a pescar e não dar o peixe”. Para nós essa frase é sensata, mas para os irmão de rua é sem lógica. Porque a grande maioria nem dá o peixe e nem ensina a pescar. Enquanto isso ficamos sentados esperando a morte chegar, algo que para eles já chegou á muito tempo.
Incomodou-me o fato de que eu também nem tive a coragem de dar o peixe ou ensinar a pescar. Senti-me impotente e vi meu senso de cristianismo ser abafado pelo silêncio orante da Catedral da Sé. Quando lá entrei todo aquele barulho de carros, de sirene de policia, de gente agitada foi engolida pela ausência de som. Coisa linda, mas que incomoda muito. Participar de uma missa lá na Catedral para mim foi emocionante, pois como disse meu amigo, estávamos no palco de muitos fatos da história de nosso Brasil. Mas voltar a realidade nua e crua e ver que não faz sentido La dentro da Igreja chamar Deus de “pai nosso” se o “pão nosso de cada dia” ainda não está nas mãos de todos. Ao sair da Catedral um irmão de rua já pediu umas moedas. Estranho, mas para mim foi como se Deus me dissesse: “que bom que você participou da Santa Missa, mas não se esqueça que estou aqui fora também e continuando meu sacrifício eucarístico na vida dos pobres”.
E assim percebi que os irmãos de rua, os pobres estão em todos os lugares. Agora sei por que Deus é onipresente. Porque onde estiver um pobre, ai está Deus vivendo nele, com ele e por ele.

Um comentário:

mila disse...

Realmente,muitas vezes pensei dessa forma quando assistiauma missa e quando saia dava de cara com uma pessoa deitada na calçada ou alguma criança pedindo esmola na rua..Estava na igreja pedindo a atenção de Deus,pedindo que ele me ouvisse enquanto ele estava lá fora em uma dessas pessoas de rua,pedindo que eu desse um pouco da minha atenção..isso faz me sentir um ipócrita...