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Sou pároco da Paróquia São Judas Tadeu de Poços de Caldas - Coordeno a Pastoral da Juventude Setor Poços - Diocese de Guaxupé - vivo para servir e sirvo para viver!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O menino e a borbolta

Mil e uma noites haviam se passado desde que o Pássaro Encantado partira. Então ele voltou. Era madrugada. A Menina o viu tão logo a luz alegre do sol fez brilhar as suas penas. Ela o estava esperando. Os apaixonados esperam sempre... Ah! Como foi bom aquele abraço de saudade! Desta vez as suas penas estavam coloridas com as cores das florestas sobre as quais voara. O Pássaro Encantado pôs-se então a cantar os seres das matas, árvores, orquídeas, regatos, cachoeiras, elfos e gnomos... A Menina não se cansava de ouvir. Ouvia e pedia que ele contasse de novo as mesmas estórias, do mesmo jeito. E assim viviam os dois se amando por dias e dias. Mas sempre chegava o momento em que o Pássaro dizia: “Menina, o vôo me chama. Preciso partir. É preciso partir para que o nosso amor não tenha fim. O amor precisa de saudade para viver...” A Menina chorava baixinho mas compreendia. E assim o amor acontecia entre partidas e retornos.

As asas do Pássaro pareciam incansáveis. Estavam sempre à procura de lugares desconhecidos. Ele já visitara montanhas encantadas, planícies geladas, lagos, rios, abismos, castelos, uma cidade construída na divisa entre a realidade e a fantasia, um reino onde era proibido estar triste, lugares sagrados, vulcões, o país dos dragões verdes e dos gigantes amarelos, jardins, selvas verdes, mares azuis, praias brancas... Sobre todos esses lugares ele lhe contara estórias. A Menina não tinha asas. Mas ela voava nas estórias que o Pássaro lhe contava.

Mas os anos foram se passando. O Pássaro envelheceu. Suas asas já não eram as mesmas da juventude. E também os seus sonhos já não eram os sonhos da mocidade. Deseja-se partir quando é manhã. Mas quando o sol se põe o que se deseja é voltar. E assim um desejo novo surgiu no coração do Pássaro crepuscular: voltar...

O sol acabara de se pôr. Vênus brilhava no horizonte. Foi então que a Menina o viu. Suas penas pareciam incendiadas pelo sol. Depois do abraço ele disse para a Menina algo que nunca lhe dissera antes: “Menina, conte-me as estórias da minha ausência...” E foi assim que, pela primeira vez, o Pássaro se calou e a Menina lhe contou estórias.

Por muitos dias o Pássaro e a Menina gozaram do seu amor. Mas o Pássaro já não era o mesmo. Algo acontecera com os seus olhos. Já não procuravam horizontes longínquos. Eles olhavam as coisas simples que havia na sua casa, coisas que sempre estiveram lá, mas que ele nunca havia visto. Não vira porque o seu coração estava em outro lugar. É o coração que nos diz o que é para ser visto.

Aconteceu então, num dia como os outros, o Pássaro abraçou a Menina, e ele sentiu, nas costas da Menina, algo que nunca sentira.

“Menina, o que é isso?” ele perguntou. Ela enrubesceu e respondeu:

“Asas, pequenas asas... Estão crescendo nas minhas costas...”

E para que ele as visse baixou sua blusa. E ele viu. Sim, pequenas asas, delicadas asas, asas de borboleta, coloridas, diáfanas, frágeis... E ele percebeu que a Menina se preparava para voar. Sua Menina se transformara numa borboleta...

O Pássaro sorriu uma mistura de alegria e de tristeza. Sentiu um leve tremor nos lábios, aquele mesmo tremor que vira nos lábios da Menina a primeira vez que lhe dissera: “Eu quero partir...” Chegara a hora em que ela partiria e ele ficaria. Ele seria, então, aquele que esperaria. Como é dolorido ficar! A solidão de quem fica é maior que a solidão de quem parte! Quem parte vai para mundos novos, cheios de maravilhas desconhecidas. Quem fica, fica num espaço vazio, de objetos velhos, esperando, esperando, contando os dias.

O momento da despedida chegou. A Menina, flutuando com suas grandes asas de borboleta, disse ao Pássaro: “Preciso partir...”

O Pássaro teve vontade de chorar. Queria lhe dizer: “Não vá. Eu a amo tanto.” Mas não disse. Lembrou-se de que essas haviam sido as palavras que a Menina lhe dissera, quando ele partira pela primeira vez. O Pássaro temia por ela. Suas asas eram tão frágeis, asas de borboleta que quebram-se atoa. Queria estar com ela para consolá-la na solidão e no cansaço. Mas não fez gesto algum. Ele sabia que os abraços que não se abrem são mortais para o amor.

Ele estendeu a sua mão num gesto de despedida. A Borboleta voou e nela pousou. Ele se aproximou dela, como se fosse beijá-la. Mas não beijou. Apenas soprou suas asas suavemente. “Voa, minha linda Borboleta”, ele disse, se despedindo. A Borboleta bateu suas asas, voou e desapareceu na distância.

Então, ao olhar de novo para si mesmo ele não se reconheceu. Já não era o Pássaro Encantado de penas coloridas. Transformara-se num Menino... Um Menino que não sabia voar. Um Menino que esperava a volta da Borboleta Encantada. Então ele voaria nas asas das estórias que ela haveria de lhe contar...

* * *

Esta “estória” tem uma “história”. Trata-se da continuação da estória “A Menina e o Pássaro Encantado” (Edições Loyola) que escrevi para minha filha pequena, Raquel. Devia ser o ano de 1980. Eu iria fazer uma viagem longa para o exterior e ela chorava. Eu devia ter 46 anos, bastante cabelo preto e energia para conquistar o mundo. Os anos se passaram, minhas asas se cansaram e agora nem tenho energia e nem vontade de conquistar o mundo. Ainda tenho prazer em viajar mas as viagens freqüentemente me cansam. Não é cansaço físico. É um cansaço na alma, com aquele descrito no primeiro capítulo do livro de Eclesiastes. Quando todo mundo está viajando eu quero mesmo é ficar. Karl Jaspers dizia que não viajava porque na casa dele estavam todas as coisas dignas de serem conhecidas. Minha loucura ainda não chegou perto da dele. Mas o fato é que há, na minha casa, uma infinidade de coisas interessantíssimas que eu deveria gastar tempo em conhecer. Tantos poemas e contos que não li, tantos livros de arte, tantos CDs que ainda não ouvi... E há também Pocinhos do Rio Verde, meu mosteiro... Esse é o destino dos pais. Há um momento em que os filhos batem as asas e se vão. Os pássaros sabem disso e não reclamam. Muitos pais e muitos avós tratam de fazer lugares deliciosos para seus filhos e netos passarem os fins de semana! Na viagem para Pocinhos do Rio Verde passo sempre defronte a um “Sítio do Vovô”. Imagino o Vovô e a Vovó sozinhos na varanda do sítio, esperando os filhos e os netos que não vêm. Eles estarão provavelmente em algum clube ou praia... Há um momento na vida em que o destino dos pais é esperar...Os apaixonados são aqueles que esperam...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Crônica: Escuridão amiga

Ontem a noite acabou a luz aqui em casa. Estava eu vendo TV e de repente tudo caiu na mais cruel escuridão. Quando estamos no escuro buscamos desesperadamente um pouco de luz. Foi isso que fiz. Com um pouco de dificuldade e com calma cheguei ate a janela de meu quarto. Quando abri percebi que a escuridão tomava conta de todo bairro. Nenhuma luz na rua ou nas casas. Descobri que é na escuridão que podemos ver melhor. Com a falta da luz, as estrelas ficaram mais nítidas. Luzes artificiais ofuscam as luzes naturais. Cuidado, na tua vida existem pessoas artificiais? Escolha as que te amam naturalmente do que jeito que você é e não pelo o que você tem.
Foi incrível a sensação de descoberta. As estrelas estam ali há milhares de anos, antes mesmo que eu nascesse e fui perceber sua presença só aquele dia. As vezes percebemos a presença de pessoas que iluminam nossa vida é na mais triste escuridão de nossa vida. É na hora da dor, do sofrimento que elas aparecem discretamente, mas ficam para nunca mais ir embora.
Aos poucos a pupila vai se acostumando com o escuro e as coisas vão ganhando forma, vai aparecendo, mas sem cor. Tudo preto e branco. As trevas de nossa vida têm a triste mania de nos fazer acreditar que a nossa existência não tem cor, não tem alegria e nem esperança. Mesmo sendo colorido, na hora da tristeza, angustia e da dor, tudo fica sem graça, sem vida. Depende do modo como eu vejo e como encaro a situação. Ate quando vou me colocar como vitima diante dos fatos? Às vezes é bom pintar tudo de novo. Com as cores da fé e da esperança em Deus.
Fiquei ali sozinho na janela. Olhando para o nada. Como não tinha energia, também não tinha TV ligada, radio em nenhum lugar do bairro. O mais completo silêncio tomou conta de tudo. É estranho o silêncio. Por não estar acostumado com ele não aprendemos a lidar com ele. O silêncio incomoda. Faz-nos penetrar em nós mesmo. E mesmo que não percebemos, odiamos a idéia de mergulhar em nós. Adoramos mergulhar na vida das pessoas, em suas intimidades, gostamos de saber seus segredos, suas feridas e fraquezas. Por isso às vezes falamos tanto da vida dos outros, porque enquanto falamos dos outros nos resguardamos. Mas aquele dia, naquela janela, naquela escuridão fui obrigado a conviver por alguns minutos comigo mesmo. Não teve como fugir. Enfrentei meu silêncio com dor e coragem. Falei comigo mesmo. Apresentei-me a mim mesmo. Estranho não é? Mas às vezes conhecemos as outras pessoas e não conhecemos a nós.
Somente o som dos pássaros embalava minha caminhada interior. Que coisa. Até pássaros vivem na árvore perto de minha casa. E fui perceber por causa da falta de luz.
Tem coisas que só podemos ver nas trevas de nossas vidas. É bom ter a escuridão para percebermos que o mundo não é feito só de trevas.

Bruce

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Eu aprendi

Aprendi que a dor é necessária para aprendermos que a vida não é feita só de dor.

Aprendi que a morte é dura e cruel. Mas não é fim. É o começo.

Aprendi que é na ausência de nossos mestres que colocamos em prática aquilo que aprendemos.

Aprendi que nem sempre acontece aquilo que queremos. E temos que ser feliz assim mesmo.

Aprendi que uma palavra pode machucar muito.

Aprendi que o tempo realmente cura o que é preciso ser curado.

Aprendi que só damos o real valor ás pessoas é na sua ausência.

Aprendi a bendizer a saudade, pois é ela que faz ser eterno o que partiu.

Aprendi que acontecem coisas em minha volta que eu nem imagino que poderia acontecer.

Aprendi a viver o hoje. Pois o amanhã depende de como eu sou hoje.

Aprendi a não ser ansioso. Ansiedade me tira o brilho do presente.

Aprendi á morrer cada dia um pouco. Para viver a cada dia um pouco mais.

Aqui é assim, quando se morre na verdade se vive. Quando se perde na verdade se ganha.

Aprendi a aprender!

Que palavras e gestos permanecem, mesmo se a pessoa se foi.



Bruce

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Catequese Renovada

Como surgiu o Documento Catequese Renovada?

Para começo de conversa “A catequese é uma urgência em vosso País” (João Paulo II).
“Catequese Renovada-Orientações e conteúdos” quer ser uma resposta concreta do episcopado brasileiro às necessidades pastorais de nossa evangelização e aos apelos do Papa João Paulo II, na sua visita ao Brasil em 10/02/80. Em 1983 os bispos do Brasil na sua assembléia anual, aprovaram o Documento “Catequese Renovada, orientações e conteúdos”. Esse documento tornou-se carteira de identidade da catequese no Brasil, Ele procurou bom processo de educação da fé. Podemos dizer que esse documento marcou a história da fundamentar, entre outras coisas, os princípios para uma catequese, as exigências para uma catequese no Brasil. Foi o responsável por um grande esforço na melhoria da formação de catequista, na organização da catequese. Nos recursos etc...
A catequese renovada provocou uma nova caminhada na catequese. Surgiram novos desafios a partir da realidade brasileira.
Este documento foi aprovado em 15/04/1983

O documento está dividido em quatro capítulos
I PARTE – A CATEQUESE E A COMUNIDADE NA HISTÓRIA DA IGREJA
II PARTE - PRINCÍPIOS PARA UMA CATEQUESE RENOVADA
III PARTE - TEMAS FUNDAMENTAIS PARA UMA CATEQUESE RENOVADA
IV PARTE – A COMUNIDADE CATEQUIZADORA

A I parte quer mostrar como diferentes épocas e situações exigem diferentes tipos de catequese e o objetivo é levar o catequista descobrir por que desabrochou a CR.
A catequese tem sempre que levar em consideração o ambiente em que ela acontece para poder responder às necessidades do povo em cada momento e lugar. (CR 101)
A comunidade é convidada a descobrir sua própria história para ver o que Deus já realizou e o que ainda precisa ser feito. (CR 52, 148)
A Igreja toma posição diante do que vai acontecendo em cada época e manifesta essa posição em documentos que o catequista deve conhecer: os textos do Concílio Vaticano II, as conclusões das Assembléias dos bispos ( Medelín – Puebla – Santo Domingo) .
Sendo membro da Igreja e construtor da Igreja (sendo Igreja), o catequista deverá saber em que direção e de que maneira a Igreja, a comunidade espera que seu trabalho caminhe.

A II parte é mais famosa do documento, encontramos o que se refere ao método.
Os fundamentos da catequese, que decorreram da própria Revelação de Deus a seus filhos (CR 36, 37, 38,39)
A “pedagogia” de Deus revelação como um processo (CR 40, 41, 42, 43,44).
A história da revelação contém várias fontes onde a catequese vai buscar sua mensagem (na Sagrada Escritura, na Tradição, no Magistério e Liturgia, a vida da comunidade, os sinais dos tempos, a vida dos Santos as devoções populares)

Para tratar de tudo isso é preciso ter em conta alguns critérios:
Cristocentrismo – Jesus é o centro da catequese. Isso não significa que vamos falar Nele do princípio ao fim, mas certamente indica que vamos tratar de todos os assuntos tendo como grande objetivo viver de acordo com o projeto de Jesus e alimentando nossa esperança no seu amor redentor. (CR 50, 56, 95,97).
Integridade – a mensagem não pode ser deformada
Hierarquia de verdades – não significa que algumas verdades pertençam à fé menos que outras, mas que algumas verdades se fundam sobre outras mais importantes e são por elas iluminadas (CR 100).
Adaptação (realidade, faixa etária, etc.)
Crianças, jovens e adultos levar em conta suas perguntas experiências, problemas e situações. (CR 129 142)
Interação fé e vida

A III parte trata-se dos grandes temas da nossa fé que orientam nosso agir de cristão esse temas são distribuídos assim:

A verdade sobre o homem:
Parceiro de Deus no plano de salvação
Sua liberdade e dignidade moral
Pecado e reconciliação
Compromisso com a fraternidade
Construtor da história

A verdade sobre Jesus:
Seu projeto de salvação
Sua encarnação (participação na vida humana)
Sua vida seus ensinamentos e sua prática
Sua morte e ressurreição
Deus revelado em Jesus e no Espírito Santo

A verdade sobre a Igreja:
Fundada por Jesus como sinal do Reino
Povo de Deus
Comunidade a serviço da salvação
Dimensão comunitária e ecumênica da Igreja
Sacramentos, que são ação de Cristo na Igreja.
Maria modelo de Igreja

A IV parte nos é apresentado à catequese como um processo dinâmico e abrangente:
O catequista não catequiza sozinho, ele é porta voz da comunidade onde o catequizando está convidado a viver a fé.
A catequese não é uma instrução, um ato de “aprender lições” como se faz na escola. Ela é um caminho a ser percorrido na comunidade juntos com os irmãos de fé.


CARCTERÍSTICAS DA CATEQUESE RENOVADA

A EDUCAÇÃO PARA VIVÊNCIA DA FÉ.
Em vez de ensinar apenas a doutrina, o catequista orienta o catequizando para viver a sua fé no dia-dia.

VIVÊNCIA DA FÉ EM COMUNIDADE.
O catequista enviado pela comunidade anima a comunhão e a participação. Por isso fala em nome da comunidade.

O PROCESSO PERMANENTE DA EDUCAÇÃO DA FÉ.
A catequese não se reduz à preparação somente para os sacramentos; mas para a vida toda.

JESUS CRISTO CENTRO DA CATEQUESE.
Todo ensinamento religioso conduz à conversão, ao segmento e à opção por Jesus que nos revela o Pai, no Espírito Santo (dimensão Trinitária)

MINISTÉRIO DA PALAVRA.
A Bíblia é o principal texto da catequese. Ao catequista procurando conhecer e viver a Palavra de Deus serão anunciadores desta Palavra como profetas na força do Espírito Santo.

FORMAÇÃO NA PEDAGOGIA DIVINA.
Divina – Deus se revela à humanidade através de palavras acontecimentos, com paciência e respeito pela caminhada do povo, com predileção pelos pobres, marginalizados e sofredores. O método da catequese deve ser o método de Deus.

CATEQUESE TRANSFORMADORA E LIBERTADORA.
Ilumina a vida do povo, ajudando encontrar as causas das injustiças e levando as pessoas a transformar essa situação, construindo uma sociedade justa e fraterna.

CATEQUESE INCULTURADA.
O Evangelho ilumina a cultura do povo e aproveita tudo o que ela tem de boa. Assume a linguagem, os símbolos o jeito de ser e de viver do povo.

FONTE DE ESPIRITUALIDADE.
A catequese celebra, reza e canta a vida e os acontecimentos na presença de Deus.

INTERAÇAO FÉ E VIDA.
A vivência da fé numa comunidade atuante nos faz ligados à vida à realidade social, mesmo frente aos desafios das situações concretas e difíceis.